O fitak7podcast esteve no festival Coachella e o nosso correspondente Rafael Latorre conta como foram seus passos pelo oásis sonoro em meio ao deserto de Coachella Valley. Fique então com as aventuras desse engenheiro que vive com a mochila nas costas e um bom fone de ouvido.
Estava eu chegando em Los Angeles numa quinta-feira para uma visita familiar. Não tinha esperanças de conseguir ir ao maior festival dos Estados Unidos, o Coachella na cidade de Indio a 250km de distância. Festival que já estava com os ingressos esgotados, camping esgotados e nenhuma vaga em hotéis no raio de 100km.
Até que por magia do destino recebi a notícia de que a erupção do vulcão Islandês Eyjafjallajokull (a partir de então meu vulcão predileto de todos os tempos) provocou o cancelamento de vôos entre Estados Unidos e Europa durante todo o fim de semana. Foi assim que através de uma amiga norueguesa - que ficou presa em seu país - consegui ingressos e reserva de hotel um dia antes do festival. Recrutei mais uma amiga, peguei emprestado um carro com GPS e na manhã seguinte parti em direção ao deserto californiano. Aqui esta meu relato deste incrível fim de semana no vale de Coachella.
A viagem tranquila até a cidade de Indio em meio a lindas paisagens do deserto de repente se transformou em pesadelo. Um engarrafamento monstro nas proximidades do Empire Polo Club, local do festival, nos prendeu 4 horas dentro do carro. Assim perdendo shows muito esperados como Hockey, The Cribs (já cancelado pelo vulcão), Ra Ra Riot e She & Him. Quando finalmente entramos no grande campo gramado cercado por palmeiras e montanhas, vimos a linda Zoey Deschannel tocando seus últimos acordes e despedindo do público.
O jeito foi entrar na área designada aos apreciadores de bebidas alcoólicas e curtir de longe The Specials bebendo um chopp heineken de 7 dolares. A banda, uma das precursoras do revival ska dos anos 70-80 se apresentou no palco principal denominado Coachella Stage sob o forte sol do deserto e fez um ótimo show mostrando porque inspirou tantas bandas.
Já com a noite caindo Passion Pit entrou no palco secundário, o Outdoor Stage e deu a largada para a turma que foi para curtir o festival dançando e fez um show bem animado usando seus teclados moderninhos e os mega agudos de seu vocalista.
Entrando para a área das tendas onde fui conferir, na Gobi, o grande poeta Gil Scott-Heron. O velhinho boa praça, que foi um dos inspiradores para o rap e hip hop atual, mandou muito bem com seu soul falado junto ao piano. Uma amostra que o festival Coachella não é somente sobre novas tendências musicais e mega bandas.
A super banda Them Crooked Vultures entrou no Coachella Stage como a principal atração rock da noite com muitas expectativas do público. Logo de início nota-se que Josh Homme fez muito bem em convencer Dave Grohl (Nirvana e Foo Fighters) e John Paul Jones (Led Zeppelin) a embarcar nesse projeto. Sempre bom ver Dave na bateria e Sr. Paul Jones é impressionante como instrumentista. Um belo show de rock.
A sensação La Roux fez o show mais disputado da noite. Era quase impossível entrar na tenda Gobi onde a ruivinha Eleanor Jackson e seu famoso topete arrasou com seus hits pops deixando todos felizes de terem suportado todo o empurra empurra para estarem ali. Muito boa ao vivo, a banda merece todo o hype que fazem a sua volta.
Consegui pegar as últimas músicas do Echo and the Bunnymen que por sorte incluiu minha favorita “Milkway”. A banda parece cansada de tantos anos de estrada e não toca bem o bastante para justificar toda arrogância do vocalista Ian McCulloch que referiu várias vezes suas musicas como as melhores já escritas.
James Murphy e seu LCD Soundsystem tomaram o Coachella Stage como se estivessem tocando num churrasco de fundo de quintal. Em clima totalmente descontraído e relaxado soltaram longos solos de suas batidas dance num excelente show que incluiu músicas novas como “Drunk Girls” do álbum “This is Happening” que será lançado em maio. De quebra James deu várias tiradas na seguinte atração Jay-Z e fez questão de extrapolar o tempo só para dar uma zoada.
Com Vampire Weekend de longe entrando no palco secundário decidi dar uma pausa na maratona de shows e comer um Gyros na praça de alimentação me preparando para mais uma rodada de shows.
Jay-Z entrou no Coachella Stage cheio de firulas dignas de qualquer mega produção e se esforçou para conquistar a platéia roqueira do festival com uma boa banda de apoio. Aparentemente a maior parte da multidão que ali estava adorou dançar seus hits, confirmando sua grande popularidade por essas bandas. O rapper provou que hip hop bem tocado pode ser atração principal de um festival como o Coachella. Particularmente gostei apenas quando tocou “99 Problems” produzida por Rick Rubin. No final das contas Jay-Z continua sendo Jay-Z.
Saindo de fininho em direção ao Outdoor Stage para o show do Public Image Limited. Descobrir durante o festival que era o velho P.I.L., banda de Johnny Rotten do Sex Pistols. Claro, tive que conferir a lenda de perto e para minha surpresa o punkeiro decadente canta muito bem. A banda fez um bom show elogiado pelas poucas pessoas presentes.
Uma última volta pelas tendas para uma sessão escandinava. Primeira parada foi na tenda Mojave para ver o som dark eletrônico da sueca Karin Dreijer Andersson sob o codinome Fever Ray. A vocalista conhecida por sua banda The Knife e por suas participações em músicas do Royksopp fez um show sem muita luz e com muitas alegorias no palco que beirou o bizarro.
Saindo do som dark do Fever Ray fui correndo para a tenda Gobi onde o norueguês Erlend Oye, um dos King of Convenience fazia um show muito mais animado com sua Whitest Boy Alive. O público, indiferente a mega atração do palco principal, cantou junto as músicas num dos melhores shows da noite.
No caminho para o estacionamento vi de longe o foguetório no Coachella Stage onde Jay-Z fazia sua última música acompanhado da patroa Beyonce. Final da primeira noite de festival e o que me esperava eram 3 horas de engarrafamento a ser enfrentadas até o hotel.
Sem engarrafamento nem transtornos, chegamos no horário certo e não perdemos nenhuma das atrações prediletas. Após uma volta pelo festival chegamos na tenda Mojave onde Camera Obscura fez um show muito agradável para quem estava dentro da tenda e quem estava relaxando no sol do lado de fora. Ponto alto foi quando tocaram “Let’s Get Out Of This Country” em homenagem a todos os ilhados na europa pelo vulcão.
Girls, banda californiana que não conhecia foi a próxima na Tenda Gobi. Queridinha de muitos espectadores locais fizeram um show com guitarras distorcidas e barulhentas que me agradou somente quando tocaram seu hit “Lust for Life”.
Gostei bastante de Temper Trap da Austrália. Um eletro rock com os vocais suaves de seu vocalista indonésio acompanhado de batidas aceleradas. A banda teve um bom público no Outdoor Stage debaixo do forte sol.
No Coachella Stage o White Rabbits, também desconhecida de minha parte me surpreendeu com um ótimo show. O som lembra um Keane mais agitado utilizando-se de piano melódico, fortes batidas e guitarras rock n’ roll.
Na correria consegui pegar o início do The Gossip na tenda Mojave, mesmo não sendo um fã da banda o seu som renovado pelo seu novo produtor me agrada cada vez mais.
Cheguei na tenda Gobi com grandes expectativas para The Raveonettes. Infelizmente foram uma das bandas prejudicadas pela fumaça do vulcão Islandês. Sharin Foo e Suni Rose subiram ao palco sozinhos sem apoio da banda que ficou presa na Dinamarca. Mesmo assim a dupla fez um bom show intimista sem deixar de lado a barulheira distorcida e com versões interessantes de seus clássicos.
No Outdoor Stage os The XX fizeram uma apresentação um pouco entediante. Apesar de ser uma ótima banda, suas músicas soavam mais lentas do que deveriam. Mesmo assim foi um bom show. No repertório as músicas que conquistaram muita gente ano passado incluindo minhas favoritas “Crystalized” e “Basic Space”.
Do lado de fora da tenda Gobi escutei o som pop sem sal de Corinne Bailey Rae, um bom momento para descansar e recuperar as energias deitado na grama.
De longe vi o metal Coheed and Cambria no telão do Coachella Stage, apesar de terem um visual que sugeria um bom rock, o som é bem fraco.
Hot Chip, bagunçados como sempre no palco, botaram a platéia do Outdoor Stage para dançar no inicio de noite com suas boas batidas eletrônicas. Não houve nenhum arrependimento de sair no meio da apresentação para pegar um bom lugar no show do FNM.
No Coachella Stage o Faith No More numa das poucas aparições de sua turnê nos Estados Unidos. Fizeram um show eclético com Mike Patton, debochado como sempre, misturando baladinhas covers como a já tradicional “Reunited” e “Ben” de Michael Jackson com as clássicas músicas da banda que deixaram os fã americanos felizes.
Com grande dificuldade para chegar no Outdoor Stage, o MGMT foi talvez um dos shows mais disputados do festival. Porem os nova-iorquinos só conseguiram empolgar com os sucessos do primeiro disco, deixando a desejar com suas músicas novas e ainda deixaram “Kids” de fora para decepção de muitos. Fica evidente que todo o frisson em volta da banda trata-se muito mais de modismo do que a qualidade das músicas.
Com grande curiosidade fui conferir o show do Muse, principal atração do segundo dia no Coachella. O som nunca foi um dos meus prediletos, mas sempre escutei que eram uma das melhores bandas do planeta tratando-se de performance ao vivo. O show estava surpreendentemente abarrotado, confirmando a popularidade dos escoceses aqui nos Estados Unidos e o merecimento como o principal headliner de rock do festival. Em noite inspirada, o Muse demonstrou que a fama procede e que realmente dominam o palco como poucos.
Mas melhor mesmo foi a super-banda The Dead Weather que dominou o Outdoor Stage. Um show incrível que coroou Jack White e Alison Mosshart como deuses do rock. Jack em translado entre bateria, guitarra e vocal mostrou também ótimas músicas do novo álbum da banda “Sea of Cowards” que está prestes a ser lançado. A maravilhosa Alison com uma grande performance conseguiu dividir as atenções com Sr. White.
Para finalizar a noite, uma volta pelas tendas escutando ao fundo o som mega farofa de Tiësto nas pick-ups do palco principal animando uma multidão de adolescentes.
Na tenda Gobi a cantora australiana Sia, que já emprestou sua voz para sucessos do Zero 7, mostrava seu jazz pop para os espectadores mais românticos.
O agito mesmo estava na tenda Mojave onde Devo tocou para aficionados que foram ao delírio quando o quinteto colocou seus tradicionais chapéus. Os velhinhos mostraram que conseguem agitar mais que qualquer banda eletro formada por adolescentes e com várias performances visuais e figurinos extravagantes tocaram clássicos como “Satisfaction” e “Whip it”.
Para fechar, na tenda Sahara tocavam os ótimos 2ManyDjs. Infelizmente os ingleses abandonaram seus magníficos mash-ups de uns tempos atrás e colocaram a tenda lotada para dançar ao som de house original com muitos samplers de músicas conhecidas.
Iniciando o domingo ensolarado, De La Soul tomou o Coachella Stage e animou o grande gramado fazendo todo mundo dançar. Rap do bom em cima do ótimo groove da banda e músicas old school com apenas o DJ. Em um clima de pic-nic no parque com gente espalhada por todos os lados curtindo o show sentadas, deitadas ou em pé, os Rappers proporcionaram um excelente inicio deste último dia.
Saindo do palco principal e escutando o ótimo Sunny Day Real State no palco secundário tomei rumo para a tenda Gobi. Fui presenciar a sensação Florence and the Machine. Em um show grande demais para a pequena tenda, Florence mostrou que realmente sua voz ao vivo é magnífica e agitou o ambiente mais que abarrotado com as famosas “Kiss with a Fist” e “You Got The Love”
Voltando ao Coachella Stage em meio a uma platéia que conferia, numa relax, a apresentação de Yo La Tengo. O trio usou seus instrumentos de forma sublime e com 15 minutos de muita distorção ritmada deixou toda a turma indie mais que satisfeita.
Correndo em direção a tenda Mojave, pulando entre pessoas sentadas e esquivando no meio da multidão consegui chegar na hora em que Julian Casablancas tocava seu hit “11th Dimension”. Seguramente um momento bastante divertido. Infelizmente em um festival como esse é preciso estar sempre em movimento.
Passando pela tenda Gobi dei uma olhadinha para a Charlotte Gainsburg e relembrei que sua carreira de atriz irritante estragou qualquer chance de aproveitar suas músicas. Porem pela breve passagem deu para notar que sua banda, formada por vários instrumentistas, tocava um bom som.
Apressado cheguei bem na frente no Outdoor Stage onde Jonsi, vocalista do Sigur Ros, mostrou que as músicas de seu disco solo funcionam ainda melhor ao vivo. Sua voz celestial emocionou a todos no fim de tarde com seus agudos inconfundíveis. O som numa nova mistura, um pouco mais agitado, mas que ainda lembra muito a sonoridade de sua banda original.
Permaneci por ali para ver bem de perto Phoenix surgir no por do sol abrindo já com “Liztomania” e fazendo todos dançarem. Seguiram ditando o ritmo com seu ótimo som pop em um dos melhores shows do último dia de festival.
No palco principal, o Pavement arrasou num show bem humorado, repleto de clássicos e conversas descontraídas que supriu as expectativas de todos os fãs. Como o próprio Malkumus classificou o show: “the 90’s in a nutshell”. Emocionante escutar ao vivo músicas como “Range Life” e “Gold Sounds”.
Thom Yorke subiu ao palco a frente de uma grande platéia formada pelo público mais que fiel do seu Radiohead. Acompanhado de figurões do rock em sua nova banda, destaque para Flea e o percussionista brasileiro Mauro Refosco que adicionaram as músicas de “The Eraser” uma pitada funk e batuques de pandeiros e berimbau. Momento auge do show foi Thom Yorke sozinho no palco cantando a nova “Give Up The Ghost” usando efeitos de microfone e violão. Também rolou versões das músicas do Radiohead, “Airbag” no violão e “Everything in the Right Place” no piano.
A grande surpresa foi Damon Albam e sua trupe mostrar a cara fazendo o Gorillaz saírem da animação para o mundo real. Com boatos de que a aparição foi devido aos telões ficarem presos pelo vulcão, minha opinião é que o Gorillaz nesta turnê que vai rodar o mundo ira aparecer sempre de cara lavada. Usando bastante efeitos visuais e muitas participações de cantores e rappers, a banda parecia mais uma trupe circense. O show iniciou com Snoop Dog no telão apresentando a banda que contava com integrantes do The Clash entre outros. Todos vestidos com um motivo marujo para dar o tom de Plastic Beach, tema de seu disco mais recente em que o show se envolve. Porem a apresentação contou com momentos entediantes e a ausência de alguns hits como “Dare” que alegraria muito mais a grande platéia. Mas o bis com “Feel Good Inc.” acompanhado do De La Soul levou todos a gastarem suas últimas energias cantando e dançando freneticamente.
texto e fotos por Rafael Latorre
Até que por magia do destino recebi a notícia de que a erupção do vulcão Islandês Eyjafjallajokull (a partir de então meu vulcão predileto de todos os tempos) provocou o cancelamento de vôos entre Estados Unidos e Europa durante todo o fim de semana. Foi assim que através de uma amiga norueguesa - que ficou presa em seu país - consegui ingressos e reserva de hotel um dia antes do festival. Recrutei mais uma amiga, peguei emprestado um carro com GPS e na manhã seguinte parti em direção ao deserto californiano. Aqui esta meu relato deste incrível fim de semana no vale de Coachella.
A viagem tranquila até a cidade de Indio em meio a lindas paisagens do deserto de repente se transformou em pesadelo. Um engarrafamento monstro nas proximidades do Empire Polo Club, local do festival, nos prendeu 4 horas dentro do carro. Assim perdendo shows muito esperados como Hockey, The Cribs (já cancelado pelo vulcão), Ra Ra Riot e She & Him. Quando finalmente entramos no grande campo gramado cercado por palmeiras e montanhas, vimos a linda Zoey Deschannel tocando seus últimos acordes e despedindo do público.
O jeito foi entrar na área designada aos apreciadores de bebidas alcoólicas e curtir de longe The Specials bebendo um chopp heineken de 7 dolares. A banda, uma das precursoras do revival ska dos anos 70-80 se apresentou no palco principal denominado Coachella Stage sob o forte sol do deserto e fez um ótimo show mostrando porque inspirou tantas bandas.
Já com a noite caindo Passion Pit entrou no palco secundário, o Outdoor Stage e deu a largada para a turma que foi para curtir o festival dançando e fez um show bem animado usando seus teclados moderninhos e os mega agudos de seu vocalista.
Entrando para a área das tendas onde fui conferir, na Gobi, o grande poeta Gil Scott-Heron. O velhinho boa praça, que foi um dos inspiradores para o rap e hip hop atual, mandou muito bem com seu soul falado junto ao piano. Uma amostra que o festival Coachella não é somente sobre novas tendências musicais e mega bandas.
A super banda Them Crooked Vultures entrou no Coachella Stage como a principal atração rock da noite com muitas expectativas do público. Logo de início nota-se que Josh Homme fez muito bem em convencer Dave Grohl (Nirvana e Foo Fighters) e John Paul Jones (Led Zeppelin) a embarcar nesse projeto. Sempre bom ver Dave na bateria e Sr. Paul Jones é impressionante como instrumentista. Um belo show de rock.
A sensação La Roux fez o show mais disputado da noite. Era quase impossível entrar na tenda Gobi onde a ruivinha Eleanor Jackson e seu famoso topete arrasou com seus hits pops deixando todos felizes de terem suportado todo o empurra empurra para estarem ali. Muito boa ao vivo, a banda merece todo o hype que fazem a sua volta.
Consegui pegar as últimas músicas do Echo and the Bunnymen que por sorte incluiu minha favorita “Milkway”. A banda parece cansada de tantos anos de estrada e não toca bem o bastante para justificar toda arrogância do vocalista Ian McCulloch que referiu várias vezes suas musicas como as melhores já escritas.
James Murphy e seu LCD Soundsystem tomaram o Coachella Stage como se estivessem tocando num churrasco de fundo de quintal. Em clima totalmente descontraído e relaxado soltaram longos solos de suas batidas dance num excelente show que incluiu músicas novas como “Drunk Girls” do álbum “This is Happening” que será lançado em maio. De quebra James deu várias tiradas na seguinte atração Jay-Z e fez questão de extrapolar o tempo só para dar uma zoada.
Com Vampire Weekend de longe entrando no palco secundário decidi dar uma pausa na maratona de shows e comer um Gyros na praça de alimentação me preparando para mais uma rodada de shows.
Jay-Z entrou no Coachella Stage cheio de firulas dignas de qualquer mega produção e se esforçou para conquistar a platéia roqueira do festival com uma boa banda de apoio. Aparentemente a maior parte da multidão que ali estava adorou dançar seus hits, confirmando sua grande popularidade por essas bandas. O rapper provou que hip hop bem tocado pode ser atração principal de um festival como o Coachella. Particularmente gostei apenas quando tocou “99 Problems” produzida por Rick Rubin. No final das contas Jay-Z continua sendo Jay-Z.
Saindo de fininho em direção ao Outdoor Stage para o show do Public Image Limited. Descobrir durante o festival que era o velho P.I.L., banda de Johnny Rotten do Sex Pistols. Claro, tive que conferir a lenda de perto e para minha surpresa o punkeiro decadente canta muito bem. A banda fez um bom show elogiado pelas poucas pessoas presentes.
Uma última volta pelas tendas para uma sessão escandinava. Primeira parada foi na tenda Mojave para ver o som dark eletrônico da sueca Karin Dreijer Andersson sob o codinome Fever Ray. A vocalista conhecida por sua banda The Knife e por suas participações em músicas do Royksopp fez um show sem muita luz e com muitas alegorias no palco que beirou o bizarro.
Saindo do som dark do Fever Ray fui correndo para a tenda Gobi onde o norueguês Erlend Oye, um dos King of Convenience fazia um show muito mais animado com sua Whitest Boy Alive. O público, indiferente a mega atração do palco principal, cantou junto as músicas num dos melhores shows da noite.
No caminho para o estacionamento vi de longe o foguetório no Coachella Stage onde Jay-Z fazia sua última música acompanhado da patroa Beyonce. Final da primeira noite de festival e o que me esperava eram 3 horas de engarrafamento a ser enfrentadas até o hotel.
Sem engarrafamento nem transtornos, chegamos no horário certo e não perdemos nenhuma das atrações prediletas. Após uma volta pelo festival chegamos na tenda Mojave onde Camera Obscura fez um show muito agradável para quem estava dentro da tenda e quem estava relaxando no sol do lado de fora. Ponto alto foi quando tocaram “Let’s Get Out Of This Country” em homenagem a todos os ilhados na europa pelo vulcão.
Girls, banda californiana que não conhecia foi a próxima na Tenda Gobi. Queridinha de muitos espectadores locais fizeram um show com guitarras distorcidas e barulhentas que me agradou somente quando tocaram seu hit “Lust for Life”.
Gostei bastante de Temper Trap da Austrália. Um eletro rock com os vocais suaves de seu vocalista indonésio acompanhado de batidas aceleradas. A banda teve um bom público no Outdoor Stage debaixo do forte sol.
No Coachella Stage o White Rabbits, também desconhecida de minha parte me surpreendeu com um ótimo show. O som lembra um Keane mais agitado utilizando-se de piano melódico, fortes batidas e guitarras rock n’ roll.
Na correria consegui pegar o início do The Gossip na tenda Mojave, mesmo não sendo um fã da banda o seu som renovado pelo seu novo produtor me agrada cada vez mais.
Cheguei na tenda Gobi com grandes expectativas para The Raveonettes. Infelizmente foram uma das bandas prejudicadas pela fumaça do vulcão Islandês. Sharin Foo e Suni Rose subiram ao palco sozinhos sem apoio da banda que ficou presa na Dinamarca. Mesmo assim a dupla fez um bom show intimista sem deixar de lado a barulheira distorcida e com versões interessantes de seus clássicos.
No Outdoor Stage os The XX fizeram uma apresentação um pouco entediante. Apesar de ser uma ótima banda, suas músicas soavam mais lentas do que deveriam. Mesmo assim foi um bom show. No repertório as músicas que conquistaram muita gente ano passado incluindo minhas favoritas “Crystalized” e “Basic Space”.
Do lado de fora da tenda Gobi escutei o som pop sem sal de Corinne Bailey Rae, um bom momento para descansar e recuperar as energias deitado na grama.
De longe vi o metal Coheed and Cambria no telão do Coachella Stage, apesar de terem um visual que sugeria um bom rock, o som é bem fraco.
Hot Chip, bagunçados como sempre no palco, botaram a platéia do Outdoor Stage para dançar no inicio de noite com suas boas batidas eletrônicas. Não houve nenhum arrependimento de sair no meio da apresentação para pegar um bom lugar no show do FNM.
No Coachella Stage o Faith No More numa das poucas aparições de sua turnê nos Estados Unidos. Fizeram um show eclético com Mike Patton, debochado como sempre, misturando baladinhas covers como a já tradicional “Reunited” e “Ben” de Michael Jackson com as clássicas músicas da banda que deixaram os fã americanos felizes.
Com grande dificuldade para chegar no Outdoor Stage, o MGMT foi talvez um dos shows mais disputados do festival. Porem os nova-iorquinos só conseguiram empolgar com os sucessos do primeiro disco, deixando a desejar com suas músicas novas e ainda deixaram “Kids” de fora para decepção de muitos. Fica evidente que todo o frisson em volta da banda trata-se muito mais de modismo do que a qualidade das músicas.
Com grande curiosidade fui conferir o show do Muse, principal atração do segundo dia no Coachella. O som nunca foi um dos meus prediletos, mas sempre escutei que eram uma das melhores bandas do planeta tratando-se de performance ao vivo. O show estava surpreendentemente abarrotado, confirmando a popularidade dos escoceses aqui nos Estados Unidos e o merecimento como o principal headliner de rock do festival. Em noite inspirada, o Muse demonstrou que a fama procede e que realmente dominam o palco como poucos.
Mas melhor mesmo foi a super-banda The Dead Weather que dominou o Outdoor Stage. Um show incrível que coroou Jack White e Alison Mosshart como deuses do rock. Jack em translado entre bateria, guitarra e vocal mostrou também ótimas músicas do novo álbum da banda “Sea of Cowards” que está prestes a ser lançado. A maravilhosa Alison com uma grande performance conseguiu dividir as atenções com Sr. White.
Para finalizar a noite, uma volta pelas tendas escutando ao fundo o som mega farofa de Tiësto nas pick-ups do palco principal animando uma multidão de adolescentes.
Na tenda Gobi a cantora australiana Sia, que já emprestou sua voz para sucessos do Zero 7, mostrava seu jazz pop para os espectadores mais românticos.
O agito mesmo estava na tenda Mojave onde Devo tocou para aficionados que foram ao delírio quando o quinteto colocou seus tradicionais chapéus. Os velhinhos mostraram que conseguem agitar mais que qualquer banda eletro formada por adolescentes e com várias performances visuais e figurinos extravagantes tocaram clássicos como “Satisfaction” e “Whip it”.
Para fechar, na tenda Sahara tocavam os ótimos 2ManyDjs. Infelizmente os ingleses abandonaram seus magníficos mash-ups de uns tempos atrás e colocaram a tenda lotada para dançar ao som de house original com muitos samplers de músicas conhecidas.
Iniciando o domingo ensolarado, De La Soul tomou o Coachella Stage e animou o grande gramado fazendo todo mundo dançar. Rap do bom em cima do ótimo groove da banda e músicas old school com apenas o DJ. Em um clima de pic-nic no parque com gente espalhada por todos os lados curtindo o show sentadas, deitadas ou em pé, os Rappers proporcionaram um excelente inicio deste último dia.
Saindo do palco principal e escutando o ótimo Sunny Day Real State no palco secundário tomei rumo para a tenda Gobi. Fui presenciar a sensação Florence and the Machine. Em um show grande demais para a pequena tenda, Florence mostrou que realmente sua voz ao vivo é magnífica e agitou o ambiente mais que abarrotado com as famosas “Kiss with a Fist” e “You Got The Love”
Voltando ao Coachella Stage em meio a uma platéia que conferia, numa relax, a apresentação de Yo La Tengo. O trio usou seus instrumentos de forma sublime e com 15 minutos de muita distorção ritmada deixou toda a turma indie mais que satisfeita.
Correndo em direção a tenda Mojave, pulando entre pessoas sentadas e esquivando no meio da multidão consegui chegar na hora em que Julian Casablancas tocava seu hit “11th Dimension”. Seguramente um momento bastante divertido. Infelizmente em um festival como esse é preciso estar sempre em movimento.
Passando pela tenda Gobi dei uma olhadinha para a Charlotte Gainsburg e relembrei que sua carreira de atriz irritante estragou qualquer chance de aproveitar suas músicas. Porem pela breve passagem deu para notar que sua banda, formada por vários instrumentistas, tocava um bom som.
Apressado cheguei bem na frente no Outdoor Stage onde Jonsi, vocalista do Sigur Ros, mostrou que as músicas de seu disco solo funcionam ainda melhor ao vivo. Sua voz celestial emocionou a todos no fim de tarde com seus agudos inconfundíveis. O som numa nova mistura, um pouco mais agitado, mas que ainda lembra muito a sonoridade de sua banda original.
Permaneci por ali para ver bem de perto Phoenix surgir no por do sol abrindo já com “Liztomania” e fazendo todos dançarem. Seguiram ditando o ritmo com seu ótimo som pop em um dos melhores shows do último dia de festival.
No palco principal, o Pavement arrasou num show bem humorado, repleto de clássicos e conversas descontraídas que supriu as expectativas de todos os fãs. Como o próprio Malkumus classificou o show: “the 90’s in a nutshell”. Emocionante escutar ao vivo músicas como “Range Life” e “Gold Sounds”.
Thom Yorke subiu ao palco a frente de uma grande platéia formada pelo público mais que fiel do seu Radiohead. Acompanhado de figurões do rock em sua nova banda, destaque para Flea e o percussionista brasileiro Mauro Refosco que adicionaram as músicas de “The Eraser” uma pitada funk e batuques de pandeiros e berimbau. Momento auge do show foi Thom Yorke sozinho no palco cantando a nova “Give Up The Ghost” usando efeitos de microfone e violão. Também rolou versões das músicas do Radiohead, “Airbag” no violão e “Everything in the Right Place” no piano.
A grande surpresa foi Damon Albam e sua trupe mostrar a cara fazendo o Gorillaz saírem da animação para o mundo real. Com boatos de que a aparição foi devido aos telões ficarem presos pelo vulcão, minha opinião é que o Gorillaz nesta turnê que vai rodar o mundo ira aparecer sempre de cara lavada. Usando bastante efeitos visuais e muitas participações de cantores e rappers, a banda parecia mais uma trupe circense. O show iniciou com Snoop Dog no telão apresentando a banda que contava com integrantes do The Clash entre outros. Todos vestidos com um motivo marujo para dar o tom de Plastic Beach, tema de seu disco mais recente em que o show se envolve. Porem a apresentação contou com momentos entediantes e a ausência de alguns hits como “Dare” que alegraria muito mais a grande platéia. Mas o bis com “Feel Good Inc.” acompanhado do De La Soul levou todos a gastarem suas últimas energias cantando e dançando freneticamente.
texto e fotos por Rafael Latorre